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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Espada

Olá visitantes! Eu queria que vocês leiem um texto que eu gostei na minha aula de português:
A ESPADA
Uma família de classe média alta. Pai, mulher, um filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho fez sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigoa. Nota que o filho está quieto e sério, mas pensa; ''É o cansaço''.
Afinal ele passou o dia correndo de um lado para o outro, comendo cachorro-quente e sorvete, brincando com os convidados dentro e por fora de casa.
-Quanto presente hein, filho?

-E esta espada. Mas que beleza. Esta eu não tinha visto.
-Pai...
-E como pesa!Parece uma espada de verdade. É de metal mesmo. Quem foi que te deu?
-Era sobre isso que eu iria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu assim. Nunca viu um garoto de 7 anos tão sério assim. Coisa estranha... O filho tira a espada da mão do pai. Diz:
-Pai, eu sou Thunder Boy.
-Thunder Boy?
-Garoto Trovão.
-Muito bem filho. Agora vamos pra cama.
-Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu receberia quando fizesse 7 anos.
O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos está ajudando na gramática do guri.
''Eu a receberia''... O guri continua.
-Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo Thunder Boy a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, mo vale sagrado de Bem Tael, há sete mil anos, e foi empunhada por Ramil, o primeiro Garoto Trovão.
O pai está impessionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórinha em quadrinhos por uns tempos.
-Certo filho. Mas agora vamos...
-Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiála. Diga que estava escrito. Era o meu destino.
-Nós nunca mais vamos ver você? - pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho enquanto o encaminha, sultimente, para a cama.
-Claro que sim. A espada do Thunder Boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocês forem pessoas boas e justas poderão contar com a minha ajuda.
E não disse mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus ''RAMIL!''. E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também.
O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:
-Viu só? Trovoada. Vá entender esse tempo.
-Quem foi que deu a espada pra ele?
-Não foi você? Pensei que tivesse sido você.
-Tenho uma coisa para te contar.
-O que é?
-Senta primeiro.
FIM


(Luis Fernando Verissimo. Comédias da vida privada.
14. ed. Porto Alegre: L&PM, 1995. p. 240-1)

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